segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Às vezes o amor dura mas, às vezes, fere em vez disso

Encarei a tela do computador. Era uma enchurrada de sentimentos, eu não conseguiria pôr aquilo em palavras. Eu sentia uma dor no peito, um aperto. Saudade. Eu o vira uns dias antes... que desagradável. Era desagradável o gosto acre no final da língua. A música lembrava coisas demais, não precisava lembrar daquilo. Me desconcentrava demais. Depois de tudo... Queria poder conversar com ele nem que seja por uma meia hora, mas aquilo não era possível. Não naquele momento.
Eu desejava encontrá-lo no meio da rua, poder ficar quanto tempo precisasse ficar para que aquele aperto se fosse. Mas essa era outra coisa impossível.
Eu não sabia como ele se sentia, e isso era extraordinariamente aflitivo.
Soube notícias dele por uma amiga em comum, soube que havia se casado. Nada pomposo, apenas um cartório. Fiquei feliz por ele, feliz demais, mas por mim eu era um nada. Saí para beber algo quente, havia se estabelescido dentro de mim um frio insuportável. Por mais que do lado de fora fosse verão, do lado de dentro havia um inverno glacial. A ponto de eu poder sair com um casaco um pouco grosso demais praquela época do ano.
Ao entrar eu me dei conta da (in)feliz consicidência que acontecia. Era aonde ele trabalhava, aquele bar. Sentei-me bem na sua frente, e pedi um conhaque. Ele olhou para o meu rosto, sorriu, mas não disse nada. Virou-se para as prateleiras e tirou uma garrafa empoeirada de umas das de cima. 
"Parabéns", disse a ele.
"Obrigado", entregou-me a taça. Cherei e tomei um gole.
"Está feliz?", não levantei o olhar enquanto perguntava. Segurei a taça pelas bordas e fiz o líquido entrar em rotação.
"Sim, estou. Muito." acreditei pelo tom. Não tive coragem de levantar os olhos. O calor da bebida era nulo contra o meu frio.
"Eu precisava vir, o aperto no coração aumentou desde que eu soube."
"Entendo... Estava com saudades suas também." senti o sorriso na voz, e isso me fez sorrir sem querer. Tomei mais um gole. "E você, como está?", perguntou.
Olhei para ele, parecia destraído. Tomei o último gole.
"Não se incomode."
Larguei uma nota de 20 e saí do lugar.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Moça

Entra na sala
esnobe, ereta, quieta.
Não olha ninguém.
Mostra a nuca, cabelo curto.
Nariz empinado.
Boca pintada.
Escarlate.

Senta, cruza as pernas,
ajeita a saia,
olha o relógio.
Continua sem olhar ninguém.

Descruza as pernas,
cruza de novo,
tamborila os dedos.
Não olha ninguém.

Eu quero ela.
Eu quero.
Quero ela.

Olha prum lado,
pro teto,
pra rua. Janela,
carpete.
Não olha ninguém.

Quero ela.
Quero tanto!
Quero ela.

Não olha ninguém.
Seu perfume queria sentir.
Quero ela.
Ela me quer também?

Descruza as pernas,
cruza de novo,
encara o sapato.
Escarlate.

Encara a parede,
janela,
carpete.

Ela me quer?
Me olha.
Me olha?
Me olha!
Me quer.

Olho azul.
Bonito. Me quer?
Desvia o olhar.

Descruza e cruza de novo as pernas
Que pernas!
Quero elas.
Quero ela. Quero sim.

Morde o lábio.
Quero ela, e morrer!,
Com aquela vista.

Olha de novo.
Pra mim.

Me quer?
Não quer.
Não pode!
Mas quer.

Tão linda.
Tão moça.
Tão minha.
Tão só.

Sorri.
Sorrio.

Me quer?
Me quer.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Dream.

Havia uma sala com apenas uma janela, mas era tudo muito escuro e a única parte em que a garota podia enchergar era a onde a luz batia, ela não era refletida. Ela estava sentada em uma cadeira dura e desconfortável, o corset apertava e a saia clara estava esfarrapada, os cabelos longos soltos em volta do colo angelical.

De repente uma porta se abriu e a garota tremeu, sem saber o que esperar ou de onde vinha o som, o que iria acontecer com ela. Ouviu passos até ela e, como reflexo, levantou-se e aproximou-se da janela, que era daquelas que é mais funda que a parede, tendo um beiral largo o suficiente para sentar-se. As mãos da pequena se apoiaram debilmente naquele beiral e ela ficou tentando controlar a sua respiração.

A figura se aproximava a passos lentos, o peito da garota tremia, sem saber o que fazer. Finalmente aquela criatura passou pela luz e ela pôde reconhecê-lo. Ele tirou o chapéu que usava, o casaco e continuou a andar em direção a janela.

Ele, com um meio sorriso nos lábios, passou a mão pelos cabelos e tocou o rosto da menina, delicado mas forte, e beijou-a, empurrando-a para que sentasse no beiral, abriu as pernas dela, subiu as saias, fazendo-a tremer, suspirando loucamente. Tocou-lhe a pele macia das coxas com uma mão e com a outra apertou-lhe a cintura. A pequena deu um suspiro mais pesado e desmaiou.

E não quis mais acordar.

domingo, 16 de outubro de 2011

Creio que só eu enchergava aquele lado. Ou só eu era afetada por aquilo. Mas ele me atraía de uma forma tão inexplicável que me sentia uma lua qualquer girando em volta de um planeta bem maior, inacreditável e lindo.

Ele devia ter ficado com raiva de mim, fui injusta e devia o ter esperado. Mas eu não consegui, a carne é fraca.

Enquanto discutíamos eu sentia a atração. Eu era puxada pra ele e chegava cada vez mais perto. Nossos corpos se aproximavam, os rostos quase colados, as vozes exaltadas e os olhos grudados uns nos outros. Sua boca parecia chamar a minha cada vez que uma palavra ríspida era pronunciada. Era uma tensão excitante que eu nunca havia experimentado. Era extasiante.

Infelizmente começamos a perceber os olhares assustados e curiosos das pessoas em volta. Mudamos de lugar e, infelizmente, os ânimos se acalmaram. O desejo não diminuiu, mas pôde ser controlado mais facilmente. Não sabia se ficava triste ou feliz, mas, sei lá, ele estava ali... era quase o suficiente.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Paradise

Ela precisava de um tempo para se recompor, ele não sabia. Quanto mais tocasse em sua ferida, maior seria sua opressão contra si mesmo. Ela tinha vontade de mostrar confiança enquanto escondia o sufoco na garganta. Um breve suspiro lambuzado de dor. Ele a fez perder a confiança, a que antes ele mesmo dera. Sentada no barquinho do lago iluminado por lamparinas, a garota sonhava com o paraíso. Podia ser longe, ela ainda almejava fugir agora. Sentia-se fraca, ele havia levado sua esperança para longe, junto a ele. A raiva a consumia em pensar no passado, onde seu sonho parecia perto. Ali estava a pequena, insegura nos braços dos ventos gélidos que moviam o barquinho. Será que este a levaria ao lugar desejado? Ela deixou o barco cair na represa, tinha certeza que daqui a pouco encontraria o paraíso.

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

When It Rains, continuação.

Chuva cai morna nas minhas costas, minha bochecha colada no asfalto ensopado. O cheiro é horrível. Um trovão faz os postes piscarem. Será que verei o sol amanhã? A dor lasciva passa como uma onda por meus membros, sei que não vou conseguir me mexer, devo ter noventa por cento do meu corpo quebrando, sangrando, esfolado, inchado e aberto. Devo morrer logo, só espero que não demore tanto quanto já demorou até agora. Lembro-me de quem fez isso comigo. Aquilo que mais amei na vida me fizera sofrer mais do que qualquer outra criatura de que se tem notícia. Mas eu aceitei aquilo de bom grado, se era aquilo que ele mais queria pra mim, se aquilo era o amor pra ele, aceito, e agradeço mil vezes. Por muitas vezes ouvi conselhos, muitos cabíveis, outros sem nexo algum. Mas a grande maioria me dizia que aquele amor adolescente, meio despreocupado e, apesar de tudo, insano, inconseqüente, era ruim pra mim, pra ele. E, bom, aqui estou eu, tentando não morrer, tentando ver pelo menos um raio de sol pra depois deixar esse mundo... O sol, nunca tinha percebido como gosto dele, me faz sentir viva. Assim como a chuva que arde em minhas feridas. Tudo aqui me faz sentir viva. Até essa dor; quisera eu perceber isso um dia atrás. Ontem... como eu poderia saber que minha vida acabaria em vinte e quatro horas? E, se eu soubesse, poderia aproveitar bem o suficiente? Que piegas... o que eu fiz ontem? Acho que eu fiquei com ele, briguei com ele. O sorriso dele, o carinho dele, seu beijo no meu ombro. Depois a bebida. Drinques e mais drinques, sua cara ficando vermelha, o anjo virando demônio. Será que eu amei alguém mais do que o amei? Será que alguém na face da terra amou alguém como eu amei? Meu amor próprio foi pro saco a primeira vez que ele disse que me amava. Não devia. Não mesmo. Mas, com a minha mãe foi assim, submissa aos homens... fiquei assim, genética? Duvido. Ah, respirar começou a doer, a neblina está cedendo, uma luz lilás começa a clarear o céu. É, finalmente, o sol vai nascer. Finalmente vou morrer. Será que alguém vai sentir minha falta? Será que ele vai sentir minha falta? A chuva está cessando. Diminuindo, diminuindo... os respingos ficam gelados, minhas pernas tremem convulsivamente... então, minha coluna deve estar inteira, ao menos isso... Será que vão achar meu corpo? Hm, coitada de minha mãe. O caixão vai ter que ser fechado, ela não vai poder se despedir apropriadamente... mas, afinal, o que eu fiz da minha vida? Eu poderia ter tido um futuro promissor, eu poderia ter tido o meu filho, se não fosse o meu anjo ter tirado-o de mim, meu bebê, tão querido... pena que só por mim. Meu anjo não o quis, por isso estou aqui. Pelo menos ele não vai nascer sem mãe, vamos os dois juntos pra eternidade, se é que esse será meu lugar, se é que aquilo existe. O sol, ele está nascendo... como meu filho faria, poderíamos ser felizes, só nós dois, sem meu anjo. Ah, o calorzinho bom do sol aquece minha pele. Um pequeno prazer antes de deixar esse mundo. Tão bonito, nunca entendi e nunca entenderei porque tantos dizem que esse mundo podia ser muito bem o inferno. Amei viver, tanto, tanto; foi mágico, apesar de tudo, apesar dos pesares e apesar da minha morte. Prematura. Hm, achei que a minha morte seria muito mais turbulenta, mas não foi. Foi como minha mãe disse que seria. Calma, a dor não me incomoda mais, e tranqüila.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

When It Rains

Chuva cai morna nas minhas costas, minha bochecha colada no asfalto ensopado. O cheiro é horrível. Um trovão faz os postes piscarem. Será que verei o sol amanhã? A dor lasciva passa como uma onda por meus membros, sei que não vou conseguir me mexer, devo ter noventa por cento do meu corpo quebrando, sangrando, esfolado, inchado e aberto. Devo morrer logo, só espero que não demore tanto quanto já demorou até agora.

Silêncio Absoluto

O silêncio pode ser tão, tão irritante. Tão absurdamente irritante. Um zunido vazio entra na alma. Os olhos procuram algo, as mãos batucam. Espera. Som algum para vibrar-lhe a membrana. Silêncio esmagadoramente claro e enlouquecedor. Dor, sente-se dor com o silêncio, nada se mexe, tudo permanece quieto. Os olhos voam de um lado para o outro loucos... Então, finalmente, um ruído. O coração acelera e depois vem medo. Que será?

Tic Tac

Relógios. Relógios para todos os lados, tic tac louco irrompe por meus tímpanos. Vibram, andam, chacoalham. O tempo passa num ritmo forte, insano. Uma luz amarela me atinge em cheio o cenho e me sinto cego por um momento. Mas o tic tac permanece, irritante, alto dentro de meus ouvidos. Sinto meus pelos se eriçarem com a minha loucura. Meu corpo não me obedece, me ponho a correr. Relógios para todos os lados, tic tac louco irrompe por meus tímpanos. Relógios.

Scream.

Um grito. Alto, estridente, de mulher. Me gela a espinha. Meu corpo todo trava, meu diafragma trabalha como louco. Os olhos saltados nas órbitas, as mãos frias e o coração acelerado, a língua inchada na boca  e um frio louco na barriga. O estacionamento está vazio, o chão úmido. Meu intestino começa a fazer movimentos bruscos. Está tão escuro, meu Deus, será que vou morrer? Será que chegou minha hora? Ouço passos atrás de mim, não consigo me virar... Cada vez mais perto, cada vez mais perto.